Tesoureiro do PT cobrava propina em bilhetes, diz delator
Ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco afirmou em depoimento
que o PT começou a receber dinheiro sujo da Petrobras em 2004
O ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, um dos
delatores da Operação Lava Jato, confirmou, em depoimento ao juiz Sergio Moro,
que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto atuava como interlocutor do partido
na arrecadação de propina de contratos da Petrobras. Mais: disse que Vaccari
mandava bilhetes exigindo o pagamento de dinheiro sujo.
Segundo Barusco, a arrecadação de vantagens indevidas na
estatal era "endêmica" e "institucionalizada" e abasteceu o
PT pelo menos desde 2004.
Conforme o delator, os cofres do PT passaram a receber
propina da Petrobras há pouco mais de onze anos, mesmo período em que Barusco e
o então diretor de Serviços da estatal Renato Duque também deram início ao
rateio de vantagens indevidas recolhidas de empreiteiras.
Na diretoria chefiada por Duque, a propina era normalmente
de 1% dos valores dos contratos, sendo 0,5% para funcionários da estatal e 0,5%
para o PT. "O Duque falava: 'Isso aqui é metade do partido, metade da
casa'. E eu cuidava da parte da casa", relatou ele. "Na gestão
do João Vaccari como tesoureiro do partido, era ele quem tomava conta dessa
parte da propina", completou. Questionado sobre repasses ao PT, foi
direto: "Nas tabelas que eu fazia de divisão sempre tinha".
De acordo com o ex-gerente, em um primeiro momento cabia a
Renato Duque repassar verbalmente as exigências de propina feitas pelo PT a
partir de bilhetes de Vaccari. Por fim, no final de 2010, o próprio Barusco se
encontrou com o ex-tesoureiro em reuniões, em hotéis em São Paulo ou no Rio de
Janeiro, em que era discutida a partilha do dinheiro. "Começou com uns
bilhetinhos", disse. Em pelo menos uma oportunidade Pedro Barusco se
encontrou com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, responsável pelas finanças
do partido no período do escândalo do mensalão.
A arrecadação de dinheiro sujo por meio da Diretoria de
Serviços da Petrobras chegou a ser tão grande que o próprio delator disse ter
sugerido métodos para dar vazão aos recursos, como a abertura de contas
bancárias no exterior. "Ele [Duque] me pedia de tempos em tempos para
fazer prestação de contas e depois ele começou a me pedir algumas quantias em
dinheiro quinzenalmente, semanalmente e fui contabilizando esses pagamentos a
ele", disse.
Por volta de 2010 e início de 2011, quando já estava para
sair da Petrobras, Barusco informou que "praticamente toda a propina
recolhida na diretoria ia para Duque".
Barusco arriscou uma razão pela qual grandes empreiteiras,
hoje investigadas no petrolão, concordavam em desembolsar o dinheiro.
"Acho que as empresas julgavam que a situação era boa para elas, que elas
se sentiam comandando o mercado, tinham encomendas e não queriam que as coisas
mudassem. Era para manter aquele status quo", disse. "Eles
recebiam tratamento especial por pagar propina."
Duque e o ex-tesoureiro João Vaccari faziam uma espécie de
encontro de contas para ver se a propina estava sendo paga dos dois lados.
"Não era o propósito específico [fazer o encontro de contas], mas às vezes
aconteciam [conversas como]: 'Ele pagou para mim e não pagou para casa? Ah, tá
te pagando? Porque para mim não está pagando'", revelou.
Toyo Setal - O lobista Júlio Camargo, um dos delatores
do esquema de corrupção na Petrobras, também prestou depoimento à Justiça
Federal e disse que Renato Duque era responsável pela arrecadação de propina
nos contratos de empreiteiras com a diretoria que chefiava.
Ligado à Toyo Setal, Camargo afirmou que o pagamento variava
sempre em torno de 1% do valor dos contratos - e que Duque dizia que parte do
dinheiro se destinava a "compromissos políticos". "Parte atendia
a interesses políticos e parte ficava com a casa", disse o lobista, em
referência aos diretores da Petrobras que integravam o esquema. Camargo afirmou
também que foi procurado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto em busca de
doações para o partido. Afirmou que o dinheiro foi doado de maneira oficial à
legenda: "Vaccari me procurou dizendo que o partido precisava de doações
e, evidentemente, era do meu interesse ficar do lado do poder. (Veja)
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