Na galeria do “Dia do Amigo”, Dilma esqueceu de incluir Rodrigo Janot
Huuummm… Naquela foto em que Lula
e Dilma celebram o “Dia do Amigo”, acho que ficou faltando alguém. Se o Rodrigo
Janot, procurador-geral da República, estivesse lá, não haveria nada de errado.
A foto estaria apenas adequada ao fato.
Em plena campanha eleitoral para
ser reconduzido ao cargo para um novo mandato de dois anos, Janot divulgou uma
nota nesta segunda em que procura responder a críticas que vem recebendo de
políticos, que o acusam de atuar com parcialidade. Só para lembrar: Renan
Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, criticou a forma como três senadores
foram tratados pela tal Operação Politeia. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente
da Câmara, afirma que Janot age de forma coordenada com o governo para incriminá-lo.
Na nota em que elogia o próprio
trabalho, Janot diz que investiga “fatos, jamais instituições”, que trabalha
para “fortalecer a República”, o que “passa necessariamente pelo funcionamento
de um Senado altivo e de pé”.
A referência ao Senado se explica.
Não é apenas uma resposta a Renan. Para ser reconduzido ao cargo, Janot tem de
vencer a disputa interna no Ministério Público — também são candidatos a seu
posto os subprocuradores-gerais Carlos Frederico Santos, Mario Luiz Bonsaglia e
Raquel Dodge —, submeter-se à sabatina da Comissão de Constituição e Justiça da
Casa e ser aprovado pelo plenário em votação secreta.
O mandato em curso expira no dia
17 de setembro. No dia 5 de agosto, ocorre a eleição no MP. Uma lista com os
três mais votados é encaminhada, então, a Dilma, que pode indicar um deles — a
praxe e ficar com o primeiro colocado. Aí a bola passa para o Senado.
Não é segredo para ninguém que
tenho, sim, criticado o trabalho de Janot. Até agora, não entendi — e a
explicação que ele deu é altamente insuficiente — por que ele não pediu nem
mesmo a abertura de um inquérito para investigar a presidente Dilma Rousseff,
conforme o autoriza, sem outra leitura possível, jurisprudência do Supremo. E
não me refiro, obviamente, apenas à operação Lava-Jato. O mesmo vale para as
pedaladas fiscais.
E não! O conjunto da obra da
chamada Operação Java Jato não me agrada por motivos lógicos e óbvios. E já os
expus aqui muitas vezes. Uma operação que, dados os pressupostos, deve nos
levar a concluir que o maior assalto perpetrado até hoje aos cofres públicos
foi obra de empreiteiros reunidos em cartel, em conluio com três ou quatro
corruptos da Petrobras mais um bando de políticos de segunda linha, acaba sendo
uma afronta à inteligência.
Aí um inconformado poderia indagar:
“Ah, mas Cunha e Renan são de segunda linha?” Não! A questão é saber se, no
tempo a que se referem as acusações contra ambos, eles já eram tão poderosos.
Mas, atenção!, ainda que fossem e ainda que sejam culpados dos crimes de que os
acusam, cabe a pergunta: eles levam jeito para estar no comando da operação?
Depois de tanto barulho, de 14
fases da Lava Jato e da Politeia, uma derivação da operação-mãe, não sabemos
quem, ainda que seja um grupo, estava no comando das ações criminosas — que,
sem dúvida, existiram. Ou alguém é tolinho o bastante para crer que o tal
“Clube do Bilhão” pintava e bordava e decidia preços, vencedores, perdedores,
comissões etc?
Sim, um Ministério Público que,
até agora, tem lascado o chicote em empreiteiros e em parlamentares, mas
preservado, de maneira determinada, o Poder Executivo está a pedir que seu
chefe, Rodrigo Janot, figure na galeria dos amigos de Dilma.
Por Reinaldo Azevedo
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