CPI do BNDES coloca governo em pânico
A avaliação foi feita ontem em
reunião da presidente Dilma Rousseff com ministros da coordenação política do
governo. Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma dizem pouco poder fazer
para impedir a CPI, mas acreditam que até mesmo empresários vão atuar para
esvaziá-la.
Segundo informações obtidas pelo Estado, a
equipe econômica estuda abrir uma linha de capital de giro, financiada pelo
BNDES, para socorrer empresas em dificuldades financeiras após a Operação Lava
Jato, da Polícia Federal, com o objetivo de evitar quebradeiras e demissões em
massa. Ministros dizem, porém, que nada disso será levado adiante se a CPI
vingar.
Rompido com o governo desde que o
lobista Júlio Camargo o acusou de ter cobrado propina de US$ 5 milhões, em
depoimento ao juiz Sérgio Moro, Cunha quer pôr o PMDB na presidência e até
mesmo na relatoria da CPI do BNDES, o que preocupa o Planalto. Além disso, o
Senado ameaça abrir uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o
mesmo assunto, criando nova fonte de problemas para Dilma.
Para piorar o quadro, o governo
sabe que o grupo de Cunha e a oposição vão tentar constranger o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva na CPI e temem que a crise bata com mais força à
porta do Planalto. Na semana passada, a Procuradoria da República no Distrito
Federal abriu investigação contra Lula, acusando-o de tráfico de influência
internacional e no Brasil.
A suspeita levantada pelo
Ministério Público é a de que Lula tenha usado o seu poder para facilitar obras
da empreiteira Odebrecht em países da África e da América Latina, com
financiamento do BNDES. Em nota, o Instituto Lula disse que o procedimento
aberto pela Procuradoria no DF é “absolutamente irregular, intempestivo e
injustificado”. Na sexta-feira, advogados do ex-presidente apresentaram uma
reclamação disciplinar ao Conselho Nacional do Ministério Público para requerer
apuração da conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado, pedindo a
suspensão do inquérito.
Coutinho. “Não há
possibilidade de ingerência política no BNDES”, disse Luciano Coutinho,
presidente do banco. “Os processos de governança do BNDES são extremamente
rigorosos. Temos plena convicção da nossa capacidade de esclarecer e demonstrar
a contribuição do BNDES para o desenvolvimento.” A estratégia do governo é
tentar pacificar a relação com Câmara e Senado durante o recesso, liberando
emendas parlamentares e acertando nomeações de segundo e terceiro escalões.
Embora na reunião de ontem a avaliação tenha sido a de que Cunha “extrapolou e
passou dos limites”, a ordem é isolar o presidente da Câmara, e não
atacá-lo.
“Eu quero ver isso como uma
questão de momento em que ele (Cunha) se sentiu injustiçado”, afirmou o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Espero que essas iniciativas não se
traduzam na busca de desestabilização das relações políticas e do próprio
quadro institucional. Não creio que ele faria isso.”
Por ordem de Dilma, ministros
também tentarão se reaproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL). Em pronunciamento na TV Senado, na sexta-feira, Renan elogiou Cunha
e chamou de “tacanhas e ineficientes” as medidas propostas pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy. Disse, ainda, que ajuste fiscal sem crescimento
econômico é como “cachorro correndo atrás do rabo”, porque não sai do
lugar. “O senador Renan é aliado, é integrante do PMDB e os aliados não
estão proibidos de fazer críticas”, amenizou o ministro da Aviação Civil,
Eliseu Padilha. (Estadão)
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