Um governo à espera do fim
Por Ricardo Noblat
Falta combinar com as ruas, é claro. Mas os que apostam no
impeachment de Dilma já se ocupam em avaliar humores, fazerem cálculos e
trocarem ideias a respeito daquele que seria o maior evento a marcar o início
do século XXI no Brasil.
Não é todo dia que se derruba um presidente da República com
base na lei. Aqui, apenas um foi derrubado assim – Fernando Collor. A força
bruta derrubou os outros.
Os mais açodados dão por provável que setembro não chegue ao
fim sem que antes Dilma se despeça do poder pelo bem ou pelo mal. Pelo bem, por
meio da renúncia.
Com um único dígito de aprovação, largada pelo PT que a
detesta e por Lula que passou a rejeitá-la, Dilma pediria as contas.
Não vale supor que uma ex-guerrilheira, tendo provado as
dores da tortura, seria incapaz de bater em retirada. Por que não?
Ao concordar em suceder Lula, Dilma se dispôs a servir a um
projeto compartilhado por um conjunto de forças de esquerdas que jamais haviam
chegado ao poder.
Provado dele, sim, quando o presidente João Goulart
substituiu Jânio Quadros. Desde então estavam na maior fissura para desfrutar
do poder novamente. Por isso cavalgaram Lula. E por ele foram cavalgadas.
A saída de Dilma por mal se daria mediante iniciativa
jurídica em algum dos fronts onde ela encara sérios problemas.
O Tribunal de Contas da União, por exemplo, ameaça rejeitar
a prestação de contas dela relativas ao ano passado.
O Tribunal Superior Eleitoral dirá se ela abusou do poder
econômico para se reeleger.
Caberá ao Supremo Tribunal Federal julgar qualquer coisa que
possa envolvê-la na Operação Lava Jato.
Quem disser que sabe o que irá acontecer está mal informado,
mas ninguém quer ser pego de surpresa. No Congresso, ruiu a base de apoio ao
governo.
Cresce no entorno de Dilma o clima hostil ao ministro
Joaquim Levy, da Fazenda, o cérebro do ajuste fiscal.
Por sabotado, Michel Temer, o vice-presidente da República,
flerta com o eventual abandono da função de coordenador político do governo.
Os partidos que contam analisam suas chances de se dar bem
no dia seguinte à queda de Dilma.
No PSDB, o melhor para Aécio seria o impeachment da chapa
Dilma-Michel Temer, com a convocação de novas eleições dentro de 90 dias.
Nesse período, Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos
Deputados, presidiria o país. Aécio e Eduardo têm conversado muito sobre o
assunto.
O senador José Serra (PSDB-SP) e o governador Geraldo
Alckmin (PSDB-SP) preferem o impeachment de Dilma e a ascensão de Temer. Que
governaria até 2018, quando um deles poderia sucedê-lo.
Com a discrição que o caso requer, ministros de tribunais
superiores medem a temperatura entre seus colegas e avaliam as pressões que
sofrem.
Uma pedra importante no tabuleiro do poder parece confusa.
Lula é o nome dela.
Há cerca de 20 dias, ele atirou forte em Dilma, no governo e
no PT, acusando-os de estarem abaixo do volume morto. Recuou quando soube que
Dilma poderia deixá-lo aos cuidados do juiz Sérgio Moro.
Lula admite que Dilma não tem mais salvação. A ser assim,
melhor para ele e o PT que ela vá embora logo.
Se fosse, Lula e o PT se pintariam para a guerra e voltariam
a ser oposição. Até 2018 teriam tempo para montar uma frente de partidos de
esquerda que bancaria a candidatura de Lula a presidente. Ou outra candidatura.
Pois Lula carece de coragem para entrar em bola dividida.
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