Cardozo alopra e diz na CPI que impopularidade de Dilma se deve à sua honestidade. E Lula, o ex-popular, era o quê?
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, depôs nesta
quarta na CPI do Petrolão. Como é natural nesses casos, falou sobre um monte de
coisa. Cada analista escolhe, vamos dizer assim, o que considera mais
importante. Começo, então, pela defesa que fez da presidente Dilma Rousseff,
classificada por ele de “honestíssima”.
Convenham: nenhum de nós esperava que fosse dizer o
contrário. Negou, obviamente, que a sua chefe tivesse conhecimento de qualquer
irregularidade. E disse um troço absurdo. Leiam:
“Sempre tive honra de ser dirigido por mulheres. A primeira prefeita de São Paulo,
[Luiza] Erundina, e a primeira presidente, Dilma. Aprendi com essas duas
mulheres, honestíssimas que, quando você acredita em princípios, vá até o final
por eles. Erundina pagou um preço alto pela sua honestidade. Acho que, da mesma
forma, a presidente Dilma paga o preço por sua correção e sua honestidade”.
Como é que é, ministro? Que preço Luíza Erundina pagou por
sua honestidade? Que eu me lembre, a única força que puniu a ex-prefeita de São
Paulo foi o PT, que a expulsou do partido quando ela decidiu ser ministra da
Administração de Itamar Franco. O paulistano que a elegeu prefeita certamente
não ficou com um mau juízo de sua gestão porque mulher e nordestina. Afinal, os
eleitores sabiam dessas duas características e lhe deram a maioria relativa dos
votos.
Dilma, da mesma sorte, foi eleita e reeleita em segundo
turno. Quem está a pagar o preço, ministro? Dilma ou a população brasileira? É
ela quem sofre os efeitos de inflação e juros cavalares e da recessão? Os
brasileiros estão descontentes com as promessas que sabe não serão cumpridas e
por vê-la fazer o que disse que não faria. Será que a rejeição à presidente,
segundo apontam pesquisas, se deve à sua honestidade?
A depender do que Cardozo queira dizer, posso até concordar
com ele, não? O PT e Lula estão visivelmente irritados com Dilma — e com o
próprio Cardozo — porque consideram que eles não atuaram o suficiente para
brecar a Lava-Jato. Digamos que nada tenham feito em razão de sua honestidade.
A única força, então, que hostiliza a Dilma honestíssima é mesmo o… PT!
Um ministro de Estado afirmar que um governante é rejeitado
pelo povo só porque é honesto dá conta da crise de valores que vivemos. É o fim
da picada! Achei que as pessoas estivessem descontentes com os insucessos
óbvios do governo e com a roubalheira que veio à luz. Segundo Cardozo, nada
disso! O povo não aguenta mais é a honestidade de Dilma. É uma piada grotesca.
Vazamentos
O ministro falou sobre as delações premiadas e lembrou, aí corretamente, que
elas não valem, por si, como provas:
“Delações premiadas não são sentenças condenatórias. São guias de investigação.
O delator pode falar a verdade, mentir ou falar meias verdades. O que diz não
tem valor probatório, tem de ser investigado”.
Afirmou ainda que os vazamentos de informações das delações
fazem com que pessoas sejam atingidas previamente em sua honra antes da
comprovação da acusação. Sim, é verdade. Afirmou que há inquéritos para
apurá-los e que a divulgação de dados sigilosos da investigação é crime. E é
mesmo. Mas que fique claro: NÃO É UM CRIME DA IMPRENSA.
A função do jornalismo é, sim, publicar, e não guardar,
aquilo que apura. Cabe ao agente do Estado — da Polícia Federal, do Ministério
Público ou da Justiça — zelar pelo sigilo.
Não controla
O ministro lembrou o óbvio: ele não tem, nem deve ter, o controle dos
inquéritos levados a efeito pela Polícia Federal. Bem, esse só poderia ser um
recado ao PT, não é?, que ataca Cardozo porque o considera muito mole no trato
com a Polícia Federal, como se esta não tivesse autonomia para realizar o seu
trabalho.
E aquela conversa, na qual nunca acreditei, de que estaria
disposto a deixar o cargo? Respondeu: “Estou no cargo porque acredito na
presidente. No dia em que ela não quiser mais que fique ou no dia em que
avaliar que não tenho mais a contribuir, eu saio. Até lá, mesmo cansado, fico,
no bom combate”. Eu sabia.
Encerro
O ministro aproveitou ainda para afirmar que o encontro entre a presidente
Dilma Rousseff e o ministro Ricardo Lewandowski, em Portugal, nada teve a ver
com a Operação Lava Jato. Políticos, às vezes, têm de dizer coisas mesmo
sabendo que ninguém vai acreditar nelas. É o lado difícil da função.
De resto, convenham: ainda que fosse para discutir o sexo
dos anjinhos barrocos, o encontro deveria ter se dado no Brasil, não é mesmo?
Para encerrar: se Dilma é impopular porque honesta, cabe
perguntar se, como corolário da tese, Lula era popular porque desonesto…
Por Reinaldo Azevedo
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