FHC afasta o cálice da impostura e se nega a ajudar a salvar “o que não tem de ser salvo”. Agenda de consenso na democracia é a Constituição
“O momento não é para
a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa
não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não
deve ser salvo.”
O texto acima é da lavra do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso e foi publicado no Facebook. Na mosca! É precisamente disto que se
trata: qualquer conversa que não seja pública será mesmo conchavo. O governo
Dilma não “tem de ser salvo”. O statu quo não “tem de ser salvo”.
Nenhum governo “tem de ser salvo”. As instituições, estas sim, têm de ser
preservadas, com tudo o que há nelas, inclusive as hipóteses em que o chefe do
Executivo pode ser afastado.
Tão logo Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara,
anunciou seu rompimento com o governo, os petistas, com medo do que possa
acontecer no Congresso, passaram a gritar: “Fogo! Fogo na floresta! Crise
institucional!”. Cadê? Quem está em crise é o governo Dilma. Sim, o Brasil
também está, e sua única saída está nas instituições.
O PT, que sempre se alimentou da luta do “Nós” (eles) contra
“Eles” (todos os que não se ajoelham diante do partido), agora decidiu que é
hora de fazer um grande acordo nacional. É mesmo? Para salvar quem? Para salvar
o quê? Autoridades fazem proselitismo contra o impeachment até quando explicam
as pedaladas fiscais, a exemplo do que fez Luís Inácio Adams, numa das falas
mais ridículas dos últimos tempos. Ameaçou recorrer ao Supremo caso o TCU
recomende a rejeição das contas, como se um tribunal constitucional tivesse o
poder de impedir um ministro de tribunal de contas de rejeitar os números
oficiais.
Isso, sim, caracteriza um evidente desprezo pelas leis. O
que o STF tem a ver com isso? Caso a Câmara decida dar sequência a uma denúncia
contra a presidente por crime de responsabilidade, o que poderá fazer a
instância máxima do Judiciário além de nada?
Os únicos a acreditar e a sustentar que uma eventual deposição,
pela via legal, da presidente é golpe são os petistas e as esquerdas que lhes
servem de satélites. Na verdade, até eles próprios sabem que se trata de uma
farsa. No dia 14 de julho, numa manifestação de esquerdistas em defesa de Dilma
e do PT, Rui Falcão, presidente do partido, deixou escapar:
“Não se esqueçam, companheiros e companheiras, que gritamos ‘Fora Collor’ e
gritamos ‘Fora FHC’. E o ex-presidente Collor saiu da Presidência num processo
legal, dentro da democracia, e é isso que eles pretendem fazer agora: expelir a
Dilma dentro de um processo democrático”.
É isso mesmo! Desconhece-se força relevante no país que
defenda uma saída que não esteja contemplada pelo “processo democrático”.
Aliás, quando ministros de estado, como José Eduardo Cardoso e Pepe Vargas,
insistem na tese de que um eventual processo de impeachment é golpe, temos de
deixar claro com todas as letras: golpista é querer deslegitimar a Constituição
e as leis.
Sem agenda
Que curioso!
O governo não tem agenda nem para manter unida a base
aliada. Qual é? Se você perguntar a qualquer petista o que pretende Dilma nos
próximos três anos e meio, ninguém saberá responder. Ela tampouco sabe. Quem
abriu o ano prometendo economizar R$ 66,3 bilhões a título de superávit
primário e, sete meses depois, baixa a expectativa para R$ 8,5 bilhões,
anunciando um corte adicional no Orçamento de R$ 8,6 bilhões, não sabe, como se
diz em Dois Córregos, nem “fazer o ‘O’ com o copo”.
Se Dilma não tem agenda para segurar os seus, quer conversar
com a oposição precisamente o quê? A resposta: “Nada!”. Ela só tem a intenção
de impedir o avanço de um eventual processo de impeachment, como se a sua
deposição trouxesse consigo o risco de uma grave crise institucional. Ou, nas
palavras de FHC, ela quer salvar “o que não tem de ser salvo”.
Consta que alguns tucanos se viram tentados a cair na
conversa… Quais? Se existe tucano defendendo o diálogo, que diga publicamente,
ora essa! E que exponha as suas razões. Se falta coragem para dizer com clareza
o que quer, vai ver está tentando salvar “o que não tem de ser salvo”.
É isso aí, FHC! Afaste esse cálice! O melhor serviço
que a oposição pode prestar ao Brasil é cobrar o cumprimento das leis e da
Constituição.
Por Reinaldo Azevedo
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