“Agenda de Renan” é conversa fiada’, diz Geddel
Presidente do PMDB da Bahia e
membro da Executiva Nacional do partido, Geddel Vieira Lima decidiu participar
da reunião suprapartidária
articulada por Aécio Neves para discutir saídas para a crise. Em conversa com oblog, ele
chamou de “conversa fiada” a agenda anticrise negociada pelo correligionário
Renan Calheiros com Dilma Rousseff.
Geddel afirmou que Michel Temer, seu amigo de trinta anos, “vive
um momento em que terá de tomar a decisão de exercer a sua função institucional
de vice-presidnete da República. Ele tem que entender que não cabe ao
vice-presidente ficar discutindo nomeação para delegacia do INSS nos Estados.''
Ex-ministro de Lula e ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal sob Dilma,
Geddel sustenta que “esse modelo faliu.”
Raro conhecedor do que se passa na cozinha do PMDB, Geddel diz
estranhar o comportamento dos líderes do partido que ainda estendem a mão para
Dilma. “O que o PMDB diz de noite não corresponde ao que certos peemedebistas
fazem de dia.” Vão abaixo as declarações de Geddel:
— Reunião com Aécio Neves: “Irei à reunião.
Certamente mais gente participará. Mas não vou conversar com um candidato à
Presidência da República. Quero conversar com líderes dispostos a dialogar, num
movimento suprapartidário, sobre a vontade das ruas, que cobram um modelo
diferente desse que está aí. Se Aécio for obcecado em ser candidato à
Presidência, ele não será candidato. A hora é de encontrar saídas
institucionais, não de focalizar interesses pessoais.''
— O papel de Michel Temer: “O Michel vive um
momento em que terá de tomar a decisão de exercer a sua função institucional de
vice-presidente da República. Ele tem que entender que não cabe ao
vice-presidente ficar discutindo nomeação para delegacia do INSS nos Estados.
Esse modelo faliu. Ele é o vice-presidente da República. Essa é a função
institucional dele. Precisa se colocar cada vez mais como o doutor Ulysses
Guimarães, exercendo o papel de guia. Como dizia o doutor Ulysses, tem de guiar
o PMDB rumo ao Sol, que é dia, não em direção à Lua, que é noite. Não dá para
ele participar de artimanhas. Insisto: ele é vice-presidente da República.
Nomeações para cargos não vão tirar o governo do drama em que se encontra nem
vão conquistar a respeitabilidade das ruas. Michel sabe o que eu penso. Falamos
com muita frequência. Sem que ele precise dizer, eu sei o que vai na alma do
Michel. Sei muito bem o que o angustia.”
— A agenda positiva de Renan Calheiros: “Nao
levo essa negociação do Renan como algo que vá resultar em consequências. O
PMDB agora tem um ideólogo econômico, que é o meu amigo Romero Jucá. E fica o
Renan fazendo esse jogo de agenda positiva, que não vai levar a lugar nenhum.
Isso é conversa fiada. A resposta à articulação de Renan foi dada pela
população de Alagoas na porta da casa dele no domingo. O recado das ruas é
muito claro. Não dá para imaginar que a sociedade vai continuar caindo nessa
esparrela de articulação de cúpula conogressual. Dizem que melhorou a situação
do governo. A articulação feita durante a semana passada não evitou nem mesmo
que o Lula fosse representado na manifestação de domingo com um boneco vestido
de presidiário. Não evitou também que as ruas dissessem claramente o que
desejam. Noutras manifestações, pedia-se de redução de passagem de ônibus a
lançamento de foguete à Lua. Agora fala-se apenas no afastamento da Dilma e na
aversão ao PT. Diante disso, que peso tem a articulação de Renan?”
— Dicotomia do PMDB: “Eu conheço o que os meus colegas do PMDB
pensam, sei o que meus colegas do PMDB dizem, e me escandalizo ao ver o que
meus colegas do PMDB fazem em relação ao governo. O que o PMDB diz de noite não
corresponde ao que certos peemedebistas fazem de dia. Eu participo das
conversas. Sei o que se passa. Isso não vai ter aderência na sociedade. Não
funciona. Não dá mais para uma banda do PMDB, cujos interesses não coincidem
com a vontade das ruas, ficar falando como se fosse o PMDB inteiro. Não dá
mais. Isso não representa o partido. Falam pelos plenários do PMDB até que eles
se rebelem. Que reúnam a Executiva, que convoquem um congresso extraordinário
para fazermos esse debate. Aguardamos o Congresso do partido, no final de
setembro.”
— Acordão: “A sociedade brasileira não
entenderá nenhum tipo de acordão. O Tribunal de Contas da União tem de cumprir
o seu papel. Não vejo como a Procuradoria da República e o Judiciário possam
entrar num acordão que faça com que Curitiba pare de gerar notícias
desagradáveis. No meu entendimento, isso pode caminhar para algo que eu já
disse e vejo o Fernando Henrique Cardoso dizendo agora: a renúncia. Seria um
mínimo de grandeza que se poderia esperar de Dilma, para reconciliar o país. A
Dilma perdeu a credibilidade. O país não se reconciliará com ela no cargo. Não
dá para o país ser presidido por alguém que não consegue sair às ruas. Isso não
existe. Ainda restam três anos e meio de mandato.”
— As manifestações: É uma tolice ficar discutindo se uma manifestação
foi maior do que a outra. A CUT, para reunir meia dúzia de gatos pingados na
frente do Instituto Lula, colocou ônibus à disposição e providenciou o
churrasco. E as ruas se encheram espontaneamente. Só não encheram mais porque
os políticos, com medo de se envolver, não mobilizaram as pessoas. As pesquisas
mostram que, se houver mobilização, outras pessoas virão. Não vieram ainda
porque não têm dinheiro para pegar um ônibus. Por enquanto, só foi à rua a
classe média, que tem como levar suas famílias. Mas o resto do país está em
casa aplaudindo.
— Mea-culpa coletivo: Fala-se muito na necessidade de um
mea-culpa da Dilma. Mas nós também precisamos fazer um mea-culpa. Participamos
de uma estrutura política semelhante a essa, que não se sustenta mais. E uma
parte do PMDB ainda não se convenceu disso. Discute a ocupação de delegacias do
INSS nos Estados. Isso não é mais aceito pela sociedade. Nós precisamos nos
penitenciar por termos integrado um sistema que a sociedade aceitava, mas não
aceita mais. Mudaram os parâmetros. Ou nós aceitamos isso ou não tem acordo
possível.
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