Mandato de Dilma chega ao ocaso em 6 meses
Um presidente da República é um cotidiano de poses. Faz pose
da hora em que escova os dentes ao momento em que se enfia sob o cobertor.
Ainda que não controle nem os quatro andares do Palácio do Planalto, precisa
passar a ideia de que faz e acontece. Mas é indispensável que exista uma noção
qualquer de honra e direção por trás das poses. Com a popularidade no volume
morto de um dígito e com a base congressual estilhaçada, Dilma Rousseff já não
consegue projetar as aparências mínimas do poder.
O segundo mandato de Dilma acaba de fazer aniversário de
seis meses. É um bebe disforme e malcheiroso. Tem cara de pão dormido. E cheira
a naftalina. A ficha da presidente ainda não lhe caiu. Quem esteve com Dilma
nas últimas horas espantou-se com o grau de alheamento da personagem. Mas a
realidade acaba se impondo. Dilma logo perceberá que preside um governo em
apuros. E talvez constate que terá de se dar por satisfeita se conseguir
alcançar dois objetivos: não cair e continuar passando a impressão de que
manda.
A margem de manobra de Dilma estreita-se rapidamente. O
vice-presidente Michel Temer manteve-se na articulação política por
responsabilidade, não por gosto. Tenta retardar a precipitação de um movimento
que o governo parece fraco demais para evitar. Setores do PMDB de Temer
conversam com a oposição abaixo da linha d’água. Discute-se a hipótese de
construir uma saída política para a crise. Sem arranhões institucionais. E sem
Dilma.
O PT já não exibe a capacidade de reação que ostentava em
2005, ano em que Roberto Jefferson jogou o mensalão no ventilador. Isolado, o
partido arrasta no Congresso a bola de ferro de 13 anos de perversão. Depois de
usufruírem de todas as benesses que o poder compartilhado pode oferecer, alguns
aliados tramam desembarcar da parceria com o PT em grande estilo, como navios
que abandonam os ratos.
Já não há no governo tantos apologistas de Dilma. Quem
consegue manter a cabeça no lugar enquanto todos ao redor perdem as suas,
provavelmente está mal informado. Movimentos como os que ocorrem em Brasília
evoluem no ritmo dos transatlânticos, não na velocidade dos carros de Fórmula
1. Mas os prazos de Dilma encurtam-se à medida que o governo dela vai
penetrando o caos.
No momento, conspira contra a celeridade das embrionárias
articulações a falta de unidade. Há, por ora, duas fórmulas na praça. Numa
Dilma é substituída por Temer. Noutra, Temer vai de roldão e convocam-se novas
eleições. Se as articulações chegarem a algum lugar, Dilma vai mais cedo para
casa. Se fracassarem, a presidente viverá um ocaso do tamanho dos 1.275 dias
que faltam para ela ir embora. (Josias de Souza)
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