Lula, o homem chamado “Brahma”. Ou: A coisa tá feia para o seu lado, falastrão!
Prestem atenção ao trecho de um texto:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu sua inclinação por um
copo de cerveja, uma dose de uísque ou, melhor ainda, um copinho de cachaça, o
potente destilado brasileiro feito de cana-de-açúcar. Mas alguns de seus
conterrâneos começam a se perguntar se sua preferência por bebidas fortes não
está afetando sua performance no cargo. Nos últimos meses, o governo
esquerdista de Da Silva tem sido assaltado por uma crise depois da outra, de
escândalos de corrupção ao fracasso de programas sociais cruciais.”
Esse é começo de um texto escrito em maio de 2004 por Larry
Rother, então correspondente do jornal americano The New York Times no Brasil.
A reação de Lula foi violenta. Tentou, acreditem, expulsar Rother do país, ao
arrepio da Constituição, sob o pretexto ridículo de que a pátria havia sido
ofendida e de que o jornalista havia se imiscuído em assuntos nacionais. Qual
assunto nacional? A, digamos, intimidade entre Lula e o álcool?
Pois é… Reportagem da revista VEJA desta semana informa que
a Polícia Federal dispõe de mensagens trocadas entre empreiteiros em que Lula,
na condição de presidente ou de ex-presidente, era chamado por um apelido:
“Brahma”, numa alusão, certamente, a seus hábitos. A metonímia-metáfora nem
chega a ser a melhor. Lula não dispensa uma cerveja, mas é conhecida a sua
inclinação por uísque desde o tempo em que presidia o Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo.
Enquanto a companheirada enfrentava a polícia, perdia o
emprego e corria alguns perigos, o máximo de risco a que se submetia o chefão
era se embebedar na sede da Fiesp, em animadas conversas com os empresários do
então “Grupo 14”. Um deles, remanescente daquele turma, já me disse que, por
lá, o Babalorixá de Banânia nunca foi visto como líder esquerdista. A avaliação
que os empresários tinham é a de que ele queria se dar bem e faria qualquer
coisa para chegar ao poder.
Pois é… É claro que Lula ser chamado de “Brahma” pelos
empreiteiros — e importaria pouco se fosse bebum, beberrão, bêbado, pau d’água,
cachaceiro, ébrio, borracho — tem menos importância do que aquilo que revelam
as mensagens que vêm a público. Fica evidente que, na Presidência da República
ou não, sóbrio ou não, ele se comportava como um mero lobista.
Em outubro de 2012, Léo Pinheiro, presidente da empreiteira
OAS, relata a um executivo seu: “Estive essa semana com o Brahma. Contou-me que
quem esteve com ele aqui foi o presidente da Guiné Equatorial, pedindo-lhe
apoio sobre o problema do filho. Falou também que estava indo com a Camargo para
Moçambique X Hidrelétrica X África do Sul”.
Nota: a Guiné Equatorial, hoje um importante produtor de
petróleo, é uma das ditaduras mais sanguinárias no mundo. Teodoro Obiang Nguema
Mbasogo, o amigão de Lula, governa o país desde 1982 — há 33 anos, portanto. É
considerado pela “Forbes” o oitavo governante mais rico do mundo, embora o país
esteja entre os últimos no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O tal filho,
que vai herdar o trono, é um bandido chamado “Teodorin”. É aquele que financiou
o desfile da Beija-Flor neste ano.
Aí é a vez de um executivo da OAS escrever a Léo Pinheiro:
“Colocamos o avião à disposição do Lula para sair amanhã ao meio-dia. Seria bom
checar com o Paulo Okamotto se é conveniente irmos no mesmo avião”. Como se
nota, os empreiteiros tinham a noção da, digamos, “inconveniência”.
O “Brahma” alimentava também os sonhos sebastianistas dos
companheiros empreiteiros. Em dezembro de 2012, escreve um executivo da OAS: “O
clima não está bom para o governo. O modelo dá sinais de esgotamento, e o
estilo da número um tem boa parte da culpa”. Em novembro de 2013, voltava à
carga: “A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo
Brahma”. Referindo-se a Dilma, na comparação com Lula, analisa o executivo da
OAS: “A senhora não leva jeito: discurso fraco, confuso, desarticulado, falta
de carisma”. Bem, essa parte é mesmo verdade. Ocorre que o propósito não era
bom. Eles queriam a volta de Lula.
Presidentes ou primeiros-ministros podem fazer lobby,
digamos, político em favor das empresas do seu país? Podem e até devem. O
governo americano pressionou para que o Brasil comprasse os caças da Boeing; o
francês, para que fosse da Dassault, e o sueco, da Gripen. Mas nenhuma
dessas empresas foi flagrada em relações incestuosas com o partido do governo
ou com o chefe do Executivo. Não reformaram o sítio do mandatário, não lhe
pagaram milhões para dar palestras, não o transformaram em mascate de seus
interesses, não lhe construíram um tríplex — para ficar nas miudezas.
A política brasileira nunca foi algo a ser copiado pelo
resto do mundo. Mas parece claro, a esta altura, que Lula e o PT a conduziram a
um novo patamar do vexame.
Há uma grande diferença entre promover os interesses
nacionais dando suporte claro e legal a empresas nativas no exterior e se
comportar como um lobista vulgar. Há uma diferença entre um empresário chamar o
chefe do Executivo de “Excelência” e de “Brahma”. E a cerveja, coitada, nem tem
nada com Isso. Dizem-me os apreciadores que é de ótima qualidade. E,
definitivamente, esse não é o caso de Lula. Se cerveja fosse, eu não a
recomendaria para consumo humano.
A coisa tá para feia para o seu lado, falastrão! (Reinaldo Azevedo)
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