Cunha agradece ataque do PT e prevê interrupção da coligação com o PMDB
Alvejado no encerramento do 5º Congresso do PT com gritos de
‘Fora Cunha, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), festejou na internet: “Quero agradecer as manifestações de
hostilidade no Congresso do PT. Isso é sinal de que estou no caminho certo.”
Acrescentou, em tom de alívio: “Ficaria preocupado é se fosse aplaudido lá.” E
vaticinou: “O PMDB não repetirá a aliança com o PT.”
O deputado indicou aos seus seguidores no Twitter um link
que conduz para entrevista que concedeu aos repórteres Daniel Carvalho e Erich
Decat. Nessa conversa, disponível aqui, Cunha declarou que “está esgotado” o modelo de
coalizão que tem o PMDB e o PT como sócios majoritários.
A despeito do alegado esgotamento da parceria com o PT,
Cunha não defende o desembarque imediato do PMDB da gestão Dilma Rousseff.
“Temos obrigação de dar sustentabilidade política para o governo dela”,
afirmou, antes de aditar: “Mas o PMDB vai buscar o seu caminho em 2018. Não
vejo o PMDB de novo numa candidatura do PT.” Avalia que a separação pode se
materializar já nas eleições de 2016, “em algumas capitais.”
Ironicamente, ao jogar o rompimento para o futuro, Cunha
acaba se associando à tese que prevaleceu no encontro nacional do PT. Por
maioria de votos, o petismo rejeitou uma proposta de suas alas mais à esquerda
de rompimento imediato das relações com o PMDB.
Porém, o morubixaba da Câmara deixa boiando na atmosfera uma
ameaça de separação em prazo mais curto. Segundo cunha, o caldo entornaria mais
rapidamente se o vice-presidente Michel Temer deixasse de ser prestigiado na
sua atribuição de articulador político do governo.
“Havendo ruptura desse processo com o Michel, haverá ruptura
do PMDB com o governo”, declarou Cunha. “Isso é inevitável. Na hora em que o
Michel for sabotado e confrontado no processo, deixar o comando da articulação
política, que não pediu para assumir, não tem razão nenhuma de o PMDB ficar no
governo.”
Nesse ponto, as declarações de Eduardo Cunha referem-se
claramente a uma fenda que se abriu na última semana nas relações de Temer com
o ministro petista Aloisio Mercadante. O chefe da Casa Civil de Dilma defendeu
a nomeação de um novo ministro para chefiar a Secretaria de Relações Institucionais.
Era essa secretaria que se ocupava da articulação política
antes de Dilma Rousseff delegar tal atribuição ao vice-presidente. Por isso, a
sugestão de Mercadante foi recebida pelo PMDB como uma tentativa de sabotar o
trabalho de Temer.
A pedido de Dilma, que se encontrava em Bruxelas, outro
ministro petista, Edinho Silva (Comunicação Social da Presidência), procurou
Temer para informar que a presidente não cogita seguir o conselho de
Mercadante. Mas peemedebistas como Cunha olham de esguelha para o quarto andar
do Planalto, onde funciona a Casa Civil.
“Vejo nitidamente que há uma tentativa de sabotagem do PT ao
Michel dentro da articulação. Não tenho dúvida nenhuma disso”, disse Cunha,
abstendo-se de citar o nome de Mercadante. “Isso é um tiro no pé, porque a
condição, quando levaram o Michel, era que, justamente, você não vai demitir o
vice. Qualquer tentativa de sabotagem do Michel acabará em ruptura.”
Instado a comentar a baixa popularidade de Dilma, Cunha
atribuiu o desgaste ao fato de a presidente implementar medidas diferentes das
que havia prometido em campanha. “Isso gerou uma contestação que levou a uma
continuada perda de popularidade, agravada pelo processo das denúncias
generalizadas de corrupção e pela situação da economia, que deu uma deteriorada.”
Supremo paradoxo: Cunha fala da generalização das denúncias
como se não estivesse, ele próprio, respondendo a inquérito no STF por suspeita
de corrupção na Petrobras. Concentrando-se em Dilma, o deputado diz acreditar a
impopularidade da presidente “chegou ao ápice.” Depois disse, “a tendência é
recuperar.”
Quando virá a recuperação? “Para ela melhorar os níveis de
popularidade depende de três fatores: conseguir recuperar a economia, ter uma
estabilidade política e precisa, efetivamente, mostrar ações. Dependendo do
sucesso ou insucesso desse conjunto, ela poderá recuperar mais ou menos.”
Cunha descrê da hipótese de o PT dar de ombros para Dilma.
Acha que “o instinto de sobrevivência vai preservar” as relações da presidente
com o seu partido. “Por mais que ele pinte e borde, o governo é o governo
deles. Se eles a isolarem, vão ficar com que governo? Não vão ser oposição ao
governo que elegeram. É uma circunstância difícil.” Josias de Souza
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