Bem vindos ao Brasil. E virem-se
O número de estrangeiros que entram como refugiados no
Brasil aumentou 2200% desde 2010. Eles fogem de catástrofes naturais, de
guerras e da miséria e encontram um país de braços abertos... apenas até a
porta do aeroporto. A partir daí, têm de se virar com a língua, a falta de
empregos e o assédio de traficantes
Os barcos abarrotados de migrantes à deriva - ou naufragados
- no Mediterrâneo e no Oceano Índico são, também, um problema brasileiro. Dos
14 milhões de pessoas que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),
tiveram de fugir de guerras, catástrofes naturais ou condições de vida
miseráveis em seu país de origem, 75 000 estão no Brasil.
Destes, 46 000 são
haitianos, que uma vez em solo brasileiro têm direito a reivindicar um visto
especial, que lhes garante permanência imediata, e pouco mais de 21 000 estão à
espera da aprovação do seu pedido de refúgio. Apenas 7 662 já possuem o
passaporte brasileiro de refugiado. Por qualquer número que se use como
parâmetro, o Brasil é um destino irrelevante comparado ao fluxo desesperado de
pessoas no restante do mundo.
Uma visita às ruas do centro, aos prédios
ocupados por sem-teto e às mesquitas e igrejas das regiões mais pobres das
grandes cidades brasileiras, porém, mostra que a questão dos refugiados está longe
de ser irrelevante para o país. Nos últimos quatro anos, o número de
estrangeiros que chegaram ao Brasil e pediram refúgio aumentou 2 200%. A
informação de que a lei brasileira sobre o assunto, de 1997, é uma das mais
liberais do mundo - basta ficar na fila da imigração, mesmo sem passaporte, e
pedir refúgio para conseguir entrar - está se espalhando rapidamente nos países
conflagrados.
O problema é que os solicitantes são despejados na sociedade
brasileira sem nenhum filtro, preparo, orientação ou ajuda do Estado. Muitos
entram em um novo ciclo de miséria ou são cooptados pelo crime organizado.
Segundo um levantamento da Polícia Federal, um em cada quatro atravessadores
detidos neste ano no Aeroporto de Guarulhos tentando sair do Brasil com drogas
na mala ou presas ao corpo tem passaporte de refugiado. Não é possível saber
quantos já chegaram ao Brasil como soldados do tráfico e quantos foram
aliciados depois.
O fato é que a entrada é muito fácil. Difícil é encontrar um
rumo depois de passar pela imigração. Na PF, os estrangeiros recebem a sugestão
de procurar a ajuda de instituições filantrópicas ou centros de culto de sua
religião. Sem saber falar português, levando consigo apenas um protocolo do
processo de solicitação de refúgio, a maioria passa horas e até dias nos
aeroportos de desembarque antes de conseguir tomar um rumo. No bairro do Pari,
em São Paulo, a mesquita sunita local tornou-se um dos centros de referência
para quem chega à cidade. "Muitos taxistas já sabem que é para trazer os
refugiados aqui", diz o xeique Rodrigo Rodrigues.
No centro da capital
paulista, outra mesquita concentra principalmente muçulmanos africanos. No ano
passado, cerca de 200 foram abrigados nas dependências do templo. Atualmente,
42 refugiados vivem no local. Sem dinheiro para cobrir as despesas, o nigeriano
Maruf Lawal, administrador da mesquita, recolhe doações de alimentos, que são
usados no preparo de uma refeição diária para cada abrigado. "Como sírio,
eu serei eternamente grato ao Brasil por abrir as portas a quem foge da guerra
e da violência, sobretudo aos meus conterrâneos. Mas ser um país receptivo não
basta.
É preciso ter uma política para acolher bem", diz o xeique Mohamad
Al Bukai, imã da mesquita de Santo Amaro e presidente da Sociedade Beneficente
Muçulmana. (Veja)
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