A VAIA NO TEATRO DEVOLVEU HADADD AO MUNDO REAL: O PAÍS QUE PRESTA, PERDEU A PACIÊNCIA
Haddad só conseguirá escapar
da vaia se aparecer no teatro disfarçado de FHC
Testemunhei quatro vezes a cena reprisada a cada aparição de
Fernando Henrique Cardoso num teatro. Alertada pelo zumzum que anuncia a
chegada de gente incomum, a plateia se junta primeiro no movimento de rotação
do pescoço e, depois de feito o reconhecimento, na salva de palmas endereçada
ao ex-presidente. Não é pouca coisa.
Insultado há mais de 12 anos pela seita que o responsabiliza
por todos os males passados, presentes e futuros do Brasil, FHC circula por
lugares públicos com a tranquilidade de quem não tem motivos para temer o povo
─ e a segurança de quem vive atravessando a pé o Viaduto do Chá, sozinho, sem
saber o que é uma chicotada sonora. Nessas caminhadas, é invariavelmente
afagado por saudações e agradecimentos sublinhados por sorrisos.
Justificadamente cauteloso, o prefeito Fernando Haddad se
mantém longe das ruas desde o começo do mandato. Neste domingo, o maníaco da
faixa descobriu que convém guardar distância de quaisquer aglomerações humanas
não amestradas. Ele decerto não sabia disso ao aparecer no Theatro Net para
assistir a Chaplin, o Musical em companhia do seu secretário de
Educação, Gabriel Chalita. Entrou sem ser notado, e já estava de saída quando
um dos atores teve a má idéia de louvar a presença da dupla de espectadores
ilustres.
A tempestade de apupos confirmou que Haddad é páreo para
Dilma Rousseff em qualquer torneio de impopularidade. E a reação do alvo
principal do protesto reiterou que vaia faz mal à cabeça. Grogue com o
som da fúria, o ex-ministro da Educação trocou o português pelo dilmês castiço
e derrapou no besteirol. “Acho que quando você mistura público com o privado em
relação a pessoas eleitas e democráticas, que têm uma trajetória democrática, é
uma confusão que me lembra o pior da tradição política”, delirou o vaiado na
entrevista à revista Vice.
O palavrório sugere que duas entidades convivem num mesmo
Fernando Haddad. A primeira ocupa o cargo de prefeito e, nos dias úteis, piora
a metrópole com o que faz ou pensa entre o começo da manhã e o fim da tarde.
Esse Haddad está a salvo de vaias porque só deixa o bunker protegido por
agentes de segurança, passa o tempo cercado de áulicos e só discursa para
domesticados.
A segunda entidade se materializa nos fins de semana, dias
santos e feriados. Esse Haddad não admite ser vaiado porque nada tem a ver com
o outro. É apenas um cidadão que faz questão de frequentar teatros sem
sobressaltos. Os indignados que aguardem calados a eleição de 2016. Ou
solicitem uma audiência aos responsáveis pela agenda e esperem sentados a hora
de dizer, olho no olho, o que pensam do pior prefeito da história de São Paulo.
O problema é que a paciência do país que presta acabou. Se
quiser ver alguma peça teatral, Haddad precisará disfarçar-se de FHC. (Augusto Nunes)
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