Governo Temer já é mais debatido que desgoverno Dilma
Sem confiança do vice e ajuda de Renan, petista tem de se
contentar com Picciani
A declaração, segundo a Folha, foi feita
por Michel Temer a aliados, em resposta, segundo este blog, ao cinismo de
Dilma Rousseff que disse esperar “integral confiança” do vice.
Temer sabe que o governo federal busca constrangê-lo a
se engajar na defesa de Dilma; e a “avaliação” vazada ao jornal pelos
assessores da petista só confirmam a tese:
“Temer, como jurista, sabe que juridicamente o pedido de
impeachment é insustentável. Ele poderia condená-lo, mas não o faz porque está
de olho no lugar da presidente.”
Juridicamente, na verdade, Temer sabe muito bem que o pedido
é sustentável, como era o de 1992 contra Fernando Collor.
Em setembro daquele ano, quando era procurador-geral de
São Paulo, o próprio Temer escreveu um artigo para a
Folha defendendo, na prática, o impeachment do então presidente, como relembrou nesta segunda-feira a coluna Painel do
jornal:
“O julgamento por crime de responsabilidade é político. Não
é jurisdicional.
A pergunta que o parlamentar votante se faz quando vota é:
convém ou não que o acusado continue a governar? A situação de
ingovernabilidade pode ser de tal porte que o parlamentar decide pelo
afastamento para restaurar a governabilidade”.
Hoje, a situação de ingovernabilidade é de tal porte.
Hoje, não convém que a acusada continue a governar.
Apesar da discrição de Temer, como diz o Valor, o pós-Dilma Rousseff já é tratado no Palácio do
Jaburu, a residência oficial do vice-presidente da República.
No plano de governo aventado por seus
partidários, a reforma da Previdência inaugura a pauta:
“A oposição concorda em dar suporte a um governo de
coalizão, desde que fique firmado o compromisso de que ele, Temer, não
concorrerá à recondução em 2018.
É uma condição inegociável.
Temer teria então condições de tocar reformas necessárias,
como a da Previdência, o que daria condições para o país chegar menos
turbulento na próxima disputa eleitoral.”
O senador José Serra (PSDB-SP) tem vaga garantida
no governo Michel Temer e no PMDB.
“Ele se tornaria uma espécie de homem forte do eventual
governo Temer, o que causa apreensão na concorrência interna.
O êxito de Serra no saneamento da economia, por exemplo, lhe
daria musculatura para uma nova candidatura presidencial em 2018, possivelmente
pelo PMDB, uma vez que o senador está isolado no PSDB e dificilmente alguém
tira do senador Aécio Neves (MG) a indicação tucana nas eleições de 2018.
Um dos entusiastas dessa costura é o senador Renan
Calheiros, presidente do Senado. Serra leu com antecedência, opinou e deu
contribuições ao texto ‘Uma ponte para o futuro’.”
Em entrevista à Folha, Serra disse que “se o governo
[Dilma] cair, todo mundo vai ter que dar a sua parcela de contribuição para
tirar o país do atoleiro. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para
ajudar”. Seus planos incluem até “preparar a implantação do parlamentarismo
a partir de 2018″.
Para completar, Renan Calheiros tem dito, segundo a Folha,
que sua tendência hoje é não convocar o Congresso no recesso parlamentar. O
governo quer acabar com o recesso para votar logo o impeachment
enquanto os brasileiros estão de férias, mas nem isso parece que vai
conseguir.
Sem a confiança de Temer e a ajuda de Renan, Dilma terá de
se contentar com Leonardo Picciani (ou Picciuleco, o líder do PMDB na
Câmara que está escolhendo os oito representantes do partido na comissão
especial do impeachment.
A “integral confiança” de Picciani custa-lhe
apenas alguns ministérios.
Felipe Moura Brasil
0 comentários: