CAIXA PRETA DOS CONTRATOS SECRETOS PODE EXPLODIR: LULA NA MIRA DA CPI DO BNDES.
Rotta, do PMDB, presidente
da CPI
Resultado de uma batalha política entre a Câmara e o
Planalto, a CPI do BNDES foi instalada na semana em que a crise no governo foi
aprofundada com o esfacelamento da base, as derrotas no Congresso e o cenário
econômico cada vez mais complicado. Nos próximos 120 dias, o colegiado deve ser
um novo componente para incendiar a crise ao jogar luz sobre os contratos secretos
firmados pelo banco entre 2003 e 2015 e sobre os financiamentos cedidos a
empresas de fachada investigadas na operação Lava Jato. Indicado pelo PMDB para
comandar a CPI, o deputado Marcos Rotta (PMDB-AM) diz que não vai proteger nem
perseguir ninguém, e destaca que o
ex-presidente Lula também pode ser alvo do colegiado. "Eu acho difícil
que isso não seja tratado. Eu fiz, inclusive, um apelo para que a gente pudesse
deixar as nossas bandeiras, as nossas cores e as nossas ideologias o mais
distante possível", disse o peemedebista. Deputado de primeiro mandato,
Rotta nega que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), terá influência
sobre o colegiado. "Penso que ele, com a inteligência que tem, haverá de
saber que a CPI, para apresentar resultados, precisa de algo chamado
autonomia". Leia a entrevista ao site de VEJA.
O que motivou o senhor a buscar o comando da CPI do BNDES?
A CPI pode atrapalhar o funcionamento do banco?
Tomara
que não. Isso quem vai dizer serão as investigações, as oitivas, os
depoimentos. O que eu quero fazer é ligar os fios. Nós vamos iluminar o BNDES e
aclarar tudo que envolve as questões de financiamento secreto a outros países e
da pouca transparência.
O senhor defende a quebra de sigilos dos contratos feitos
pelo BNDES?
Eu acho que esse será o startda CPI. Vamos começar por
aí. Quem vai definir tudo serão os integrantes. Eu acho que se for necessário
para começar o processo investigatório, sim. Mas vamos ter muita prudência. Não
vamos tomar nenhum tipo de medida açodada, por pressão de quem quer que seja.
Não vai passar por mim a questão de tentar esconder nada. Se isso for
necessário para que a gente chegue ao objetivo de dar resposta à sociedade, a
CPI faz.
O BNDES é hoje uma caixa-preta. Essa questão do sigilo
vai ficar muito em baila porque as pessoas não conseguem entender como uma
instituição pública promove financiamentos secretos. Mas existem regras de
mercado. Nós precisamos investigar a motivação de tudo isso e sobretudo o
amparo legal do que foi feito.
Quem deve ser ouvido pelo colegiado?
Há uma corrente
majoritária que já defende o nome do presidente do BNDES [Luciano Coutinho]
para ser o primeiro a ser ouvido. Mas vai depender do plenário. Vamos colocar
os requerimentos em votação.
O MP investiga um suposto tráfico de influência de Lula para
a concessão de empréstimos do BNDES à Odebrecht. Isso também será tratado pelo
colegiado?
Eu acho difícil que isso não seja tratado. Eu fiz, inclusive,
um apelo para que a gente pudesse deixar as nossas bandeiras, as nossas cores e
as nossas ideologias o mais distante possível das ações da CPI. Porque se a
gente contaminar com defesas, ataques, posição e situação, os trabalhos da CPI
vão ficar muito complicados. Sei que isso é extremamente difícil de ser
conseguido, mas foi um apelo que eu fiz. Nós estamos em uma Casa política,
existem muitos interesses de um lado ou de outro, mas acho que a CPI não é nem
de situação nem de oposição. Ela foi criada para investigar um fato determinado
e passar uma instituição a limpo.
A CPI da Petrobras começou com uma expectativa muito grande,
mas pouco avançou nas investigações. O que podemos esperar dessa nova comissão
de inquérito?
A gente não pode comparar as duas CPIs, são situações
extremamente diferentes. O que nós vamos defender é que haja um processo sério
de investigação. Da minha parte, o compromisso que eu tenho é de tentar dotar a
comissão de todos os instrumentos legais possíveis para que os membros possam
desempenhar bem as suas funções. Se houve desvio, se houve desmando e se houve
crime, que os responsáveis sejam denunciados, julgados e penalizados de acordo
com a legislação. A questão vai ser muito simples: vai responder quem cometeu
algum tipo de crime. A CPI, no que depender do seu presidente, não vai
perseguir ninguém, mas, ao mesmo tempo, não vai proteger ninguém.
Há um sentimento de que o presidente da Câmara tem dominado
as comissões comandadas por aliados. O senhor considera que terá autonomia?
Essa
foi uma das condições que eu coloquei para aceitar a presidência. O Eduardo
Cunha talvez seja uma das pessoas mais preparadas, qualificadas e inteligentes
que temos hoje no cenário político. Exatamente por conta dessas qualidades, ele
tem a sensibilidade de saber que não pode interferir nessas questões, sobretudo
nas CPIs. Até agora, não tive nenhum tipo de contato com ele ou de
condicionamento para que pudéssemos prosseguir com os trabalhos da CPI. Penso
que ele, com a inteligência que tem, haverá de saber que a CPI, para apresentar
resultados, precisa de algo chamado autonomia.
Mas, de qualquer forma, o senhor está ciente do forte
componente político que a CPI carrega?
Eu acho que o cenário politico é
muito ruim para o governo. Não é só o caso do rompimento do Cunha. PDT e PTB,
que eram da base, simplesmente saíram. De uma maneira geral, o cenário politico
interfere nessas questões. Nós somos entes políticos, partidários e temos
bandeiras ideológicas. Mas eu acho que tudo isso deveria ficar distante dos
trabalhos da CPI.
O senhor vai disputar a prefeitura de Manaus em 2016?
Eu
sou do PMDB, que deve ter candidatos. Nós tivemos uma conversa há alguns meses
com o presidente Michel Temer. O PMDB quer realmente disputar a presidência em
2018 e se esse processo se concretizar, penso que antes passa pelas eleições
dos prefeitos no ano que vem. É um processo que nós vamos discutir, mas no
momento certo. A minha vida está focada na CPI. Do site da revista Veja
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