Ministro nega que tenha cobrado propina por meio de doações para a campanha de Dilma, em 2014
BRASÍLIA - O ministro da
Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Edinho Silva,
negou, em entrevista coletiva, no início da tarde deste sábado, que tenha
pressionado o empresário Ricardo Pessoa, da UTC, para pagar propina, por meio de
doações eleitorais registradas na Justiça Eleitoral, em troca da manutenção de
contratos da empresa com a Petrobras. E disse que, caso sejam verdadeiras as
declarações atribuídas a Pessoa, no âmbito da colaboração com o Ministério
Público Federal, pedirá a anulação da delação premiada.
- Me causa indignação que meu
nome tenha sido envolvido numa delação premiada. Me causa indiganação o
vazamento seletivo da delação. Me causa indignação a tese de criminalização
seletiva das doações da nossa campanha (de Dilma, em 2014), enquanto outros
partidos também receberam doações - disse Edinho, que completou: - O que eu
garanto é que agi dentro da legalidade. O que ele pactuou foram doações legais.
Não tenho nada a esconder de ninguém.
O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, disse que o benefício da delação premiada pode ser suspenso pela
Justiça caso fique comprovado que o depoimento dado não seja verdadeiro.
Cardozo disse que pessoa quer "obter benefícios" ao entrar na delação
premiada e que pode, inclusive, mentir sobre tudo. Ele disse que os ministros
Aloísio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação) pedirão acesso ao
depoimento.
- Temos que entender o contexto
em que uma delação premiada é feita: é um contexto em que a pessoa quer obter
benefícios. Ela pode dizer toda verdade, pode mentir em tudo, pode dizer a
verdade e parcialmente mentira, pode ser seletiva também nas informações que
presta. Isso tem que ser apurado e investigado. São muito ruins esses
vazamentos por um aspecto: não sabemos o que está lá e se há outros fatos
narrados que poderiam ter sido divulgados também - disse ele.
Cardozo disse que a presidente
Dilma Rousseff está "absolutamente tranquila" e que o governo quer
agilidade na apuração dos fatos.
- A presidente está absolutamente
tranquila. O governo e todas as pessoas que são atingidas por uma delação têm
interesse claro que a invesitgação vá a fundo e o mais rápido possível. Porque
não há nada pior do que haver uma acusação que você nem sabe se ela real, não
tem como se defender. Então, essa situação de pendência, em que honra de
pessoas é antigida, é realmente muito perversa. Então, quanto mais rápida for a
investigação, mas aprofundada também para que a verdade venha à tona, é melhor
para aqueles que sabem que efetivamente são inocentes.
Para Cardozo, a reunião com Dilma
nesta manhã foi "informativa".
Edinho Silva afirmou que é o
responsável por todas as doações da campanha da presidente Dilma Rousseff, na
campanha de 2014. E negou que seja demissionário, apesar de salientar que o
cargo é da presidente da República.
- A presidente me deu autonomia
para tomar as medidas necessárias em relação à minha honra. Causa estranheza
que o vazamento tenha ocorrido e tenha sido feito de forma seletiva. Ela
(Dilma) sabe que eu cumpri o que ela me pediu para fazer: arrecadar com lisura
e legalidade.
O ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, também defendeu Edinho Silva, acusado por Pessoa de negociar
doações de R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma, supostamente em troca da
manutenção dos contratos com a estatal.
- A presidente sempre orientou
para arrecadar estritamente dentro da lei. Se alguém fala o contrário, que
demonstre. Tudo que eu sei, o ministro Edinho cumpriu o que foi orientado pela
presidente da República - afirmou o ministro da Justiça.
Edinho Silva ainda sustentou que
os diálogos que manteve com Ricardo Pessoa não tiveram contratos com a
Petrobras como parte de seu conteúdo. Ele já havia reconhecido que teve três
reuniões com Ricardo Pessoa, no período de campanha.
- Eu, como coordenador financeiro
da campanha, dialoguei com dezenas de empresários brasileiros, como também fez
todo o tesoureiro das demais campanhas (de outros partidos). Nenhum empresário
fez qualquer afirmação que insinuasse que meus diálogos não tivessem ocorrido
dentro da legalidade, com lisura e transparência.
Questionado se a presidente Dilma
Rousseff está convencida dos argumentos dados por Edinho Silva e por Aloízio
Mercadante (Casa Civil), em resposta às acusações de Pessoa, o ministro da
Justiça respondeu:
- A presidente Dilma está
absolutamente tranquila com as justificativas dos ministros citados na delação
premiada de Ricardo Pessoa. Isso deve ser apurado e investigado. Os minsitros
narraram com muita clareza os fatos descritos. O governo tem interesse que a
investigação vá a fundo. Essa situação de pendência é muito perversa. Quando
mais rápida e aprofundada for a investigação, melhor - sustentou Cardozo.
REUNIÃO DE EMERGÊNCIA
A presidente Dilma Rousseff
atrasou o embarque para os Estados Unidos, previsto para as 9h, e convocou
ministros para uma nova reunião nesta manhã de sábado com o objetivo de avaliar
o impacto do conteúdo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, da UTC.
A reunião da presidente com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça),
Aloízio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secom) terminou por volta de
10h20.
A presidente já embarcou para os
EUA, em meio ao clima de apreensão provocado pelas denúncias. O Planalto deve
se pronunciar oficialmente ainda neste sábado sobre a delação do empreiteiro,
que teve seu acordo de colaboração com o Ministério Público Federal homologado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Esta foi a segunda reunião de
Dilma sobre o assunto em menos de 24 horas. O ministro Edinho Silva, que iria
viajar a São Paulo na noite de sexta-feira, foi obrigado a ficar em Brasília e
também participou do encontro. Mercadante não embarcou para os Estados Unidos e
poderá ficar fora da comitiva presidencial para administrar a crise provocada
pela delação.
Dilma deixou o Palácio da
Alvorada, às 10h20, acompanhada apenas da filha Paula, em direção à Base Aérea
de Brasília, de onde embarcou para os EUA, em visita na qual terá encontro com
o presidente Barack Obama, entre outros compromissos.
Em conversas pela manhã, na
reunião do Palácio da Alvorada, Mercadante teria se defendido da acusação feita
de que recebeu R$250 mil de recursos do petrolão, alegando que na mesma época o
governador Geraldo Alckmin também teria recebido R$750 mil da mesma empresa.
- Estão vazando partes do
depoimento de forma seletiva para prejudicar a presidente Dilma, mas as doações
foram legais - disse Mercadante a interlocutores após a reunião do Alvorada.
A delação premiada de Ricardo
Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran e apontando como chefe do “cartel
das empreiteiras” que fatiou os contratos da Petrobras, provocou, ainda na
sexta-feira, apreensão no Palácio do Planalto. Dilma esteve com Cardozo,
Mercadante, Edinho Silva (Comunicação Social), além do assessor especial Giles
Azevedo, para avaliar o impacto da delação sobre o governo.
O QUE DIZ O DELATOR
No depoimento, o empreiteiro
listou como beneficiários de recursos a campanha da presidente Dilma Rousseff
em 2014; a campanha do ex-presidente Lula em 2006; a campanha de Mercadante, ao
governo de São Paulo em 2010; e mais cinco senadores e três deputados federais.
O Ministério Público Federal e a PF agora vão investigar se as doações foram
legais ou se houve irregularidades.
A lista dos que receberam as
verbas foi publicada nesta sexta-feira à noite pelo site da revista “Veja” e
confirmada pelo GLOBO junto a duas fontes com acesso às investigações em curso
no Supremo Tribunal Federal (STF).
No detalhamento do depoimento
dado a Procuradoria Geral da República, publicado pela revista Veja, Pessoa
conta como teria abastecido as contas das campanhas da presidente Dilma
Rousseff, em 2014, e do ex-presidente Lula, em 2006. Os cinco dias de
depoimento renderam uma planilha com 40 anexos de documentos mostrando o caminho
do dinheiro do esquema de desvios da Petrobras. Pessoa teria dito que, em 2014,
foi “abordado de forma bastante elegante” em três encontros com o então
tesoureiro da campanha e hoje ministro da Secom, Edinho Silva. Parte do
dinheiro repassado teria sido feito na conta de um funcionário do Planalto,
Manoel de Araújo Sobrinho.
“O Edinho me disse: você tem
obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que
contribuir com mais. Estou precisando”, diz Pessoa no depoimento, segundo a Veja.
A partir das conversas, ele teria providenciado o repasse de R$10 milhões,
repassados ao servidor do Palácio do Planalto, Manoel de Araújo Sobrinho. Pelas
planilhas entregues a PGR, foram feitos dois depósitos de R$2.5 milhões , em 5
e 30 de agosto de 2014. Depois desses depósitos, segundo a revista, o
funcionário do Planalto acertou outro repasse de R$5 milhões para o caixa
eleitoral de Dilma. Metade desse valor foi entregue, e a outra parte seria paga
depois da eleição, mas foi preso antes.
SUPOSTA ENTREGA EM DINHEIRO VIVO
No detalhamento sobre os repasses
para a campanha de reeleição de Lula em 2006, quando ele venceu a disputa com
Geraldo Alckmin em pleno mensalão, Pessoa teria dito que acertou com seu
tesoureiro, José de Filippi Júnior um esquema clandestino para entregar, em
dinheiro vivo, R$2.4 milhões no comitê do então candidato. O dinheiro teria
sido internalizado de uma conta na Suiça do consórcio Quip, formado pela UTC,
Camargo Correa, Iesa, e Queiroz Galvão, que mantém contratos milionários com a
Petrobras para construção de plataformas.
No relato que teria feito ao
procurador Rodrigo Janot, ele , o executivo da UTC Walmir Pinheiro e um
emissário de confiança levavam pessoalmente o dinheiro ao comitê presidencial
de Lula. Para não chamar a atenção, combinaram em uma choperia uma senha entre
o pagador e o beneficiário. Quando chegava com os pacotes, o emissário dizia a
senha “tulipa”, e só era levado a sala de Fillipi se recebesse de volta a
contra-senha “caneco”. Pessoa, segundo Veja, entregou todas as planilhas sobre
essa movimentação.
Segundo Veja, o ex-tesoureiro do
PT, João Vaccari Netto, é citado em várias partes da delação de Ricardo Pessoa:
cobrando propina, recebendo propina e tratando sobre pagamento de propina. A
pedido do ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, ele passou a
tratar diretamente com Vaccari.
“Bastava a empresa assinar um
novo contrato com a Petrobras que o Vaccari aparecia para lembrar: como fica
nosso entendimento político?”. Segundo a revista, Ricardo Pessoa explicou, em
seu depoimento de cinco dias, que Vaccari não gostava da palavra “propina” e se
referia aos pagamentos como “pixuleco”. Nos encontros, rabiscava valores e os
percentuais no papel e o entregava para o interlocutor .”Vaccari picotava a
anotação e distribuía os pedaços em lixos diferentes”, diz o depoimento de
Pessoa. Mas teria sido tudo filmado. (Maria Lima)
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