Para livrar a cara para 2018, Lula tira o corpo fora e joga culpa em Dilma e no PT
Dirigentes ouvidos pelo GLOBO nesta segunda-feira, que
preferiram não se manifestar publicamente, disseram que o diagnóstico do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o governo Dilma Rousseff é
certeiro, mas o vazamento das críticas, sobretudo contra a presidente, no
momento em que ela amarga a sua pior avaliação, serve para dar munição à
oposição e aumentar o fosso entre Dilma e o partido. A interlocutores, Lula diz
que nenhuma dessas críticas é novidade para a presidente, já que ele não
esconde sua posição quando os dois se reúnem, de forma privada, em São Paulo.
As reclamações sobre Dilma, principalmente em relação às
medidas que afetam direitos trabalhistas, são endossadas por dirigentes da
sigla. No entanto, o congresso do PT, há menos de duas semanas em Salvador,
eliminou do documento final até mesmo a expressão “ajuste fiscal”.
Para alguns petistas, essa narrativa pode ser um ensaio de
Lula para iniciar um descolamento de Dilma. Já um dirigente diz que eles são
inseparáveis como “a corda e a caçamba”. Em outra frente, as críticas de Lula
encontraram ressonância em alas do PT que fazem esse debate interno desde as
manifestações de junho de 2013. O problema é que, na instância do partido em
que essas questões deveriam ser discutidas, Lula não foi por esse caminho.
— Eu acho que ele está certo. Isso já vem sendo discutido
principalmente no âmbito das redes sociais, área que eu coordeno. A militância
vem criticando o excesso de burocratização e de institucionalização do partido.
Ele está vocalizando a militância. Há crítica muito grande à acomodação dos
petistas. O partido precisa voltar-se mais para a juventude — disse um dos
vice-presidentes do PT, Alberto Cantalice.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos líderes do
grupo Mensagem ao Partido, o teor da fala de Lula é o mesmo de uma carta
divulgada recentemente por 35 parlamentares, mais da metade da bancada, que
pedia a renovação da legenda, inclusive com novas eleições internas. A carta
foi rejeitada pela maioria do último congresso do PT, cuja corrente interna
mais numerosa, a Construindo um Novo Brasil (CNB), é a de Lula.
— A gente esperava que o congresso decidisse por aí, mas
decidiu por nada — reclamou o deputado.
No sábado, conforme O GLOBO revelou, Lula disse a religiosos
católicos, em um encontro no seu instituto, que é um “sacrifício” convencer
Dilma a viajar pelo país e defender o projeto petista. Ele afirmou que, em
relação à popularidade, ele e ela estão no “volume morto”, enquanto o PT está
“abaixo do volume morto”.
Lula voltou as baterias nesta segunda-feira para o PT, em
uma nova autocrítica bastante contundente. Para o ex-presidente, o partido que
fundou há 35 anos “está velho”, sem projeto e paralisado pela burocracia porque
“só pensa em cargos”. A avaliação foi feita durante debate promovido pelo
Instituto Lula, em São Paulo, com o ex-presidente de governo espanhol Felipe
González. Para o petista, o PT “perdeu um pouco a utopia”.
O partido não reagiu diante das declarações. O presidente da
legenda, Rui Falcão, que estava no mesmo debate, não quis falar com a imprensa
na saída. Dirigentes petistas ouvidos pelo GLOBO dizem que o ex-presidente tem
mostrado insatisfação nos últimos meses tanto com a acomodação da legenda
quanto com o desempenho de Dilma no segundo mandato. O tom, no entanto, tem
subido a cada desabafo.
— Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a
gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje, precisamos
construir isso, porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em
emprego, a gente só pensa em ser eleito, e ninguém hoje mais trabalha de graça
— disse Lula.
O ex-presidente disse estar “cansado” e falou que o partido
precisa se renovar com pessoas mais jovens e “mais ousadas, com mais coragem” —
O PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, já estou com 69
(anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que eu falava em
1980. Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido,
uma revolução interna — disse o ex-presidente, e completou: — Temos que decidir
se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou se queremos salvar
nosso projeto.
Ao lado de González, Lula também voltou a reclamar da
imprensa e acusou veículos de “fazer oposição pelo editorial”. — Aqui no Brasil
nós reclamamos muito da mídia. A oposição é a imprensa. Em alguns jornais, eles
fazem oposição pelo editorial. Ao invés de brigar com isso, temos de saber usar
melhor a internet, as redes sociais — disse Lula, que defendeu mais uma vez a
regulação da mídia. (Globo)
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