Empreiteiro diz que pagou a políticos para facilitar negócios com o governo
Foi para abrir portas, ganhar
influência e fazer "a engrenagem andar" que o empresário Ricardo
Pessoa, dono da empreiteira UTC, fez doações políticas milionárias nos últimos
anos, segundo seus depoimentos
a procuradores da Operação Lava Jato.
Em 2014, suas contribuições
somaram R$ 54 milhões, incluindo doações declaradas pelos partidos à Justiça
Eleitoral, de acordo com a legislação, e pagamentos que ele diz ter feito por
fora, por meio da prática de caixa dois.
Apontado como líder do cartel
formado por empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na
Petrobras, Pessoa fechou acordo de delação premiada com os procuradores. O
Supremo Tribunal Federal homologou o acordo na quinta-feira (25).
Segundo ele, não havia uma troca
de favores explícita, e o tratamento das contribuições políticas era
"elegante". O empreiteiro mencionou como exemplo seu relacionamento
com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado.
Pessoa afirmou que o senador
falava de economia e conjuntura política em seus encontros com ele. Num jantar,
Renan teria mencionado a obra de Angra 3, querendo saber como estava a
concorrência –a UTC integra um consórcio contratado para a montagem da usina
nuclear. O empreiteiro disse que entendeu a pergunta como um recado sutil para
que ele fizesse contribuições ao PMDB.
POR FORA
O empreiteiro diz ter pago quase
R$ 9 milhões por fora a candidatos e partidos entre 2006 e 2014, sem contar as
doações declaradas à Justiça Eleitoral. Detalhes sobre essas tabelas foram
antecipados pela revista "Veja" na edição desta semana e confirmados
pela Folha no sábado.
Segundo Pessoa, um dos pagamentos
foi feito à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, em
2006, como a Folha revelou em maio. O empreiteiro afirma que entregou
R$ 2,4 milhões em espécie, no comitê petista em São Paulo.
Pessoa indicou que o principal
destinatário do dinheiro pago por meio de caixa dois foi o ex-tesoureiro do PT
João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba desde abril. Vaccari recebeu
quase R$ 4 milhões da UTC de 2008 a 2013, segundo o empreiteiro.
Pessoa disse que Vaccari era o
encarregado de cobrar a propina associada aos contratos da UTC com a Petrobras.
Segundo Pessoa, o petista ligava sempre para cobrar o "pixuleco",
como chamava a propina, equivalente a 1% do valor dos contratos.
Pessoa disse que, quando os
pagamentos eram em espécie, Vaccari ia até a sede da UTC, em São Paulo, para
buscar o dinheiro, que levava numa mochila. (F.de
São Paulo)
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