'Eu não vou cair, isso aí é moleza', afirma Dilma
No auge da pior crise de seus quatro anos e meio de governo,
a presidente Dilma Rousseff desafiou os que defendem sua saída prematura do
Palácio do Planalto a tentar tirá-la da cadeira e a provar que ela algum dia
"pegou um tostão" de dinheiro sujo.
"Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é
moleza, é luta política", disse a presidente nesta segunda-feira (6),
durante entrevista exclusiva àFolha, a primeira desde que adversários voltaram
a defender abertamente seu afastamento do cargo.
Apesar do cerco político que parece se fechar a cada dia,
Dilma chamou os opositores para a briga. "Não tem base para eu cair, e
venha tentar. Se tem uma coisa que não tenho medo é disso", afirmou a
presidente, acusando setores da oposição de serem "um tanto
golpistas".
Com dedo indicador direito erguido, foi mais enfática:
"Não me atemorizam". A presidente tirou o PMDB da lista de forças
políticas que tentam derrubá-la. "O PMDB é ótimo", disse Dilma,
esquivando-se de responder sobre o flerte de figuras do partido com a tese do
impeachment.
Dilma descartou a hipótese de renúncia e comentou o boato
disseminado na internet, e prontamente desmentido por ela, de que havia tentado
se matar. "Eu não quis me suicidar na hora que eles estavam querendo me
matar lá [na cadeia, durante a ditadura militar], a troco de que eu quero me
suicidar agora?".
*
Folha - O ex-presidente Lula disse que ele e a sra. estavam
no volume morto. Estão?
Dilma Rousseff - Respeito muito o presidente Lula. Ele
tem todo o direito de dizer onde ele está e onde acha que eu estou. Mas não me
sinto no volume morto não. Estou lutando incansavelmente para superar um
momento bastante difícil na vida do país.
Lula disse que ajuste fiscal é coisa de tucano, mas a sra.
fez.
Querido, podem querer, mas não faço crítica ao Lula. Não
preciso. Deixa ele falar. O presidente Lula tem direito de falar o que quiser.
A sra. passa uma imagem forte, mas enfrenta uma fase
difícil.
Outro dia postaram que eu tinha tentado suicídio, que estava
traumatizadíssima. Não aposta nisso, gente. Foi cem mil vezes pior ser presa e
torturada. Vivemos numa democracia. Não dá para achar que isso aqui seja uma
tortura. Não é. É uma luta para construir um país. Eu não quis me suicidar na
hora em que eles estavam querendo me matar! A troco de quê vou querer me
suicidar agora? É absolutamente desproporcional. Não é da minha vida.
Renúncia também?
Também. Eu não sou culpada. Se tivesse culpa no cartório, me
sentiria muito mal. Eu não tenho nenhuma. Nem do ponto de vista moral, nem do
ponto de vista político.
A sra. fala que não tem relação com o petrolão, mas está
pagando a conta?
Falam coisas do arco da velha de mim. Óbvio que não [tenho
nada a ver com o petrolão]. Mas não estou falando que paguei conta nenhuma
também. O Brasil merece que a gente apure coisas irregulares. Não vejo isso
como pagar conta. É outro approach. Muda o país para melhor. Ponto.
Agora excesso, não [aceito]. Comprometer o Estado
democrático de direito, não. Foi muito difícil conquistar. Garantir direito de
defesa para as pessoas, sim. Impedir que as pessoas sejam de alguma forma ou de
outra julgadas sem nenhum processo, também não [é possível].
O que acha da prisão dos presidentes da Odebrecht e Andrade
Gutierrez?
Olha, não costumo analisar ação do Judiciário. Agora, acho
estranho. Eu gostaria de maior fundamento para a prisão preventiva de pessoas
conhecidas. Acho estranho só.
Não gostei daquela parte [da decisão do juiz Sergio Moro]
que dizia que eles deveriam ser presos porque iriam participar no futuro do
programa de investimento e logística e, portanto, iriam praticar crime
continuado. Ora, o programa não tinha licitação. Não tinha nada.
A oposição prevê que a sra. não termina seu mandato.
Isso do ponto de vista de uma certa oposição um tanto quanto
golpista. Eu não vou terminar por quê? Para tirar um presidente da República,
tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a realidade,
ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma base real.
Não acho que toda a oposição que seja assim. Assim como tem
diferenças na base do governo, tem dentro da oposição. Alguns podem até tentar,
não tenho controle disso. Não é necessário apenas querer, é necessário provar.
Delatores dizem que doações eleitorais tiveram como origem
propina na Petrobras.
Meu querido, é uma coisa estranha. Porque, para mim, no
mesmo dia em que eu recebo doação, em quase igual valor o candidato adversário
recebe também. O meu é propina e o dele não? Não sei o que perguntam. Eu
conheço interrogatórios. Sei do que se trata. Eu acreditava no que estava
fazendo e vi muita gente falar coisa que não queria nem devia. Não gosto de
delatores.
Mesmo que seja para elucidar um caso de corrupção?
Não gosto desse tipo de prática. Não gosto. Acho que a
pessoa, quando faz, faz fragilizadíssima. Eu vi gente muito fragilizada
[falar]. Eu não sei qual é a reação de uma pessoa que fica presa, longe dos
seus, e o que ela fala. E como ela fala. Todos nós temos limites. Nenhum de nós
é super-homem ou supermulher. Mas acho ruim a instituição, entendeu?
Transformar alguém em delator é fogo.
Tem gente no PMDB querendo tirar a sra. do cargo.
Quem quer me tirar não é o PMDB. Nã-nã-nã-não! De jeito
nenhum. Eu acho que o PMDB é ótimo. As derrotas que tivemos podem ser
revertidas. Aqui tudo vira crise.
Parece que está todo mundo querendo derrubar a sra.
O que você quer que eu faça? Eu não vou cair. Eu não vou, eu
não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão
dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha
tentar. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou
ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam.
E se mexerem na sua biografia.
Ô, querida, e vão mexer como? Vão reescrever? Vão provar que
algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo neste
país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido. (F.de
São Paulo)
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