Renúncia de Blatter coloca em xeque Copas de 2018 e 2022
Envolvidos em denúncias de compra de votos, Mundiais da
Rússia e do Catar serão tema de discussão na Uefa
A renúncia do suíço Joseph Blatter da presidência da Fifa
abrirá uma nova disputa pelo poder no futebol e pode afetar, inclusive, a
realização das duas próximas Copas do Mundo. O futuro dos Mundiais - marcados
para a Rússia, em 2018, e Catar, em 2022 - seria o centro das discussões de um encontro
de dirigentes da Uefa, neste fim de semana, em uma reunião que poderia começar
a desenhar a nova Fifa. No entanto, o encontro foi cancelado, pois a entidade
considera o debate ainda "prematuro", apesar de todas as evidências
de que possa ter havido compra de votos nas eleições.
Sem grande influência na Fifa desde que o brasileiro João
Havelange assumiu o poder em 1974, os europeus estão comprometidos a recuperar
a direção do futebol mundial. Blatter, apesar de suíço, jamais foi considerado
como um europeu - em sua gestão, levou o Mundial pela primeira vez para Ásia
(Coreia do Sul/Japão em 2002) e África (África do Sul/2010).
Blatter era um dos maiores defensores do Mundial da Rússia
em 2018 e chegou a espalhar a versão de que a campanha contra ele era uma forma
de o Ocidente derrubar a Copa promovida pelo Kremlin. Vladimir Putin passou a
ser um de seus aliados, denunciando os Estados Unidos. Agora, sem ele, a
pressão por uma investigação sobre a compra de votos nas escolhas de Rússia e Catar como
sedes dos Mundiais deve aumentar.
O Ministério Público da Suíça já apura o caso da Rússia e
deve interrogar cerca de dez cartolas nas próximas semanas. Não por acaso, a
única patrocinadora da Fifa que não emitiu um comunicado comemorando a renúncia
foi o Gazprom, de Moscou. A delegação do Catar também demonstrou preocupação na
última terça-feira. Ao ver a reeleição de Blatter na semana passada, até mesmo
a Bolsa de Valores do emirado comemorou. Nesta terça, porém, o clima no Catar
era de tensão.
Não apenas Blatter caiu, mas praticamente todos os eleitores
da candidatura do Catar foram expulsos, estão presos ou morreram - Ricardo
Teixeira, Julio Grondona, Nicolás Leoz, Rafael Salgueiro, Mohamed Bin Hammam e
Franz Beckenbauer são apenas alguns dos eleitores do Catar hoje fora de cena.
Jornais ingleses ainda revelaram na manhã desta quarta-feira que dirigentes
esportivos do emirado estão sendo orientados a não viajar aos Estados Unidos,
sob o risco de serem interrogados ou mesmo presos. Apenas aqueles com imunidade
diplomática estão circulando.
O governo do Catar e cartolas da região rapidamente reagiram
nesta quarta, alegando que não existe motivo para se preocupar. Para o
presidente da Federação do Catar, Hamad Bin Khalifa bin Ahmed Al Thani, não
existe risco de o país perder a Copa. "Já fomos inocentados", disse,
em relação a uma investigação interna realizada pela Fifa. Um trunfo dos árabes
é o fato de alguns dos opositores de Blatter também terem votado no Catar,
entre eles o francês Michel Platini, presidente da Uefa, e apontado como um
possível sucessor de Blatter. (Veja)
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